Presença
Amor para além da pandemia
Casais enfrentam novo momento na relação durante o distanciamento social e adaptam comemoração do Dia dos Namorados
Divulgação -
O Dia dos Namorados é a data perfeita para ficar tal qual canta Tim Maia na faixa ‘Você e Eu, Eu e Você’: Juntinhos. Mas, com o isolamento social, consequência da pandemia da Covid-19, não são todos os casais que poderão ver o dia 12 amanhecer enrolados em um abraço louco. Para a psicóloga especialista em terapia de casais, Maria Eduarda Oxley, o momento é de adaptação e a comunicação é essencial para entender o outro, além de si mesmo. “É uma distância física, não de afeto. Não podemos generalizar” frisa.
A distância pressiona uma nova necessidade na relação, a de aprender a demonstrar o amor e afeto através do contato on-line. Como é o caso da Milene Louzada, 20, e o João Antônio Ferreira, 24, estudantes de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), juntos há cerca de um ano e meio. Ela mora em Rio Grande e ele em Pelotas. Após a suspensão das aulas presenciais da Universidade, o contato físico ficou difícil. “Depois que os ônibus passaram a diminuir a frota e lotação, ficou mais complicado”, conta João. Desde então, os dois se encontraram poucas vezes, o que antes fazia parte da rotina diária.
A estudante acredita que a distância fortaleceu ainda mais a relação. “Eu não gosto muito de trocar várias mensagens durante o dia, o João sabe. Como nos víamos sempre, não precisávamos disso. Agora, sabendo que não vamos nos ver, tenho me esforçado ainda mais para mandar algo fofo, enviar uma figurinha ou marcar em um meme (nas redes sociais)”, explica. Os aplicativos de conversa são grandes aliados na hora de demonstrar amor pelas trocas de mensagens, fora as ligações de áudio e chamadas de vídeo, que foram trazidas para o cotidiano.
E a saudade vai além de ver o outro da maneira mais próxima possível. “Sinto muita falta de estar no mesmo espaço, em silêncio, mas sabendo que o outro está ali. Seja jogando ou no celular”, lembra Milene. “É a saudade de estar perto, do toque, até de incomodar ela. É isso que faz bastante falta”, completa João. Depois de mais de dois meses longe, os dois vão se ver pessoalmente no Dia dos Namorados, para um jantar, protegidos em casa.
No caso dos profissionais da saúde, a rotina é ainda mais desafiadora - uma vez que estes se tornaram os profissionais mais requisitados do ano. Nicole Reinisch e o Paulo Henrique Dario estão vivendo juntos essa transição; ambos se formaram no final de abril na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e, logo em seguida, partiram para o oeste catarinense, no município de Xanxerê, para atuar no front do novo coronavírus em unidades do Sistema Único de Saúde. Esse é o quinto Dia dos Namorados que passam juntos, dessa vez como noivos, mas o encontro especial só começa depois das 19h, quando o plantão acaba.
Cada um passa cerca de 72 horas semanais atendendo os pacientes suspeitos e com confirmações da Covid-19. “É uma rotina pesada mas o que sempre quisemos fazer”, explica Paulo. Nicole acredita que a união fortifica ainda mais a relação. “Eu e o Paulo amamos desafios e mudanças, acredito que são eles que nos movem a crescer e a prosperar. Juntos, conseguimos lidar bem mais fácil com todos os desafios”. E as mudanças durante esse ano vão além da formatura, nova casa e novo emprego: O hall de entrada de casa virou um campo de desinfecção, após chegar da rua a higiene é imediata. “Fé em Deus e no EPI. Acabou virando algo natural pra gente”, brinca o médico.
Colocar em prática a empatia é o segredos para manter uma boa relação. “A rotina está mais estressante, mas somos muito compreensíveis um com o outro e cuidamos para que isso não interfira no nosso relacionamento, para não levarmos o estresse do trabalho para dentro de casa”, ressalta a médica.
A distância é física, não de afeto
Há dois anos especialista em terapias individuais, familiares e de casais, a psicóloga Maria Eduarda Oxley ressalta que a comunicação é essencial. “Cada pessoa tem a sua forma de demonstrar afeto e carinho. É o se mostrar presente de alguma forma, não necessariamente em palavras”. Para aqueles que passam os dias longe, o diálogo e a troca não pode ser deixada de lado.
A especialista acredita que, no momento, são duas as vias prováveis: uma de resolução de problemas e outra de fortalecimento da relação. “Os casais que há muito postergaram os problemas, agora estão tendo que olhar para o outro”, analisa. E o olhar é para dentro, tentando entender as questões antigas que há muito estavam guardadas de baixo do tapete. “Enquanto outros estão aproveitando e vivendo uma lua de mel”, brinca.
O importante é não deixar que a relação invada a individualidade necessária de cada ser. Com a pandemia, cada pessoa pode acabar desenvolvendo questões internas, também extremamente importantes e necessitando de cuidado. “As pessoas precisam ir até o outro, entendê-lo, e voltar-se para si”, completa.
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